25
Out 10

- … esse cara por quem eu tou apaixonada, é você.

David encontrava-se de pé, no meio da sua sala, e as palavras que ouvira deixaram-no completamente desarmado, sem reacção. Há muito tempo atrás ele amara aquela rapariga, tivera uma relação com ela. De alguma forma essa relação ainda existia. Diferente, mas existia. Ela fora o seu primeiro amor e ele guardava-a no seu coração. Juntos partilharam momentos, sentimentos. Mas isso fora há muito tempo. O único sentimento que restara fora a amizade, o carinho e o respeito. David pensava que era assim com os dois. Mas estava enganado.

- Eu sei que eu não devia ter mentido pra você, mas eu não sabia como te dizer. A verdade é que eu nunca esqueci você. Eu tentei, juro que tentei, mas não deu. Eu continuo te amando.

- Você devia ter me falado a verdade…

- Eu sei, mas quando me disseram que você tava namorando, eu não pensei em nada. Eu tinha medo de te perder par sempre, porque enquant…

- Peraí! Quando disseram pra você que eu tava namorado? Quer dizer que você sabia?

Agora era a vez de Carol ficar sem reacção. As suas palavras traíram-na, e desta vez não havia volta a dar. Ela conhecia o David, e o melhor seria dizer a verdade.

- Me enviaram uma mensagem, através da internet, me dizendo que você tinha conhecido outra pessoa, mas que ela não tava te fazendo bem. Dizia que você andava desconcentrado, triste, p´ra baixo, e me pediam se eu podia vir a Portugal p´ra… sei lá, tentar tirar você de uma roubada. Eu não conhecia a Mel, e eu fiquei com medo que ela só tivesse querendo se aproveitar de você.

- Você não tinha esse direito, Carol.

- Mas eu pensava que eu ia estar te ajudando. David, eu continuo gostando de você, nada mudou. E eu sei que você sente alguma coisa por mim também. Se você me der uma chance… eu venho pra cá desta vez, eu largo tudo lá no Brasil, e eu sigo você pra onde você for.

- Você não entendeu. Eu gosto de você sim, mas como amiga, uma irmã. Não tem mais nada entre a gente, eu pensava que isso tinha ficado bem claro quando a gente terminou.

- Eu também pensava isso, mas aí o tempo foi passando e eu fui percebendo que eu gostava mais de você do que eu própria imaginava. David, eu sofri tanto sem você. Cheguei a pensar que eu ia ficar doida.

- Eu pensei que te conhecia, que podia confiar em você. Eu abri as portas da minha casa pra você, te dei a mão. Eu fiquei do seu lado quando você fingiu que tava sofrendo por um cara. Que idiota que eu sou.

- Eu não queria te magoar, eu juro que não queria.

- E a Mel? Você faz ideia do que você fez?

- David, eu não tive nada a ver com o que aconteceu no jantar. Eu nem sabia que aquilo ia acontecer.

- E quer que eu acredite em você, depois do que eu ouvi aqui?

- Mas é verdade, eu não sabia.

- Então foi coincidência naquela noite, você ter inventado que tava mal, só pra eu ficar do seu lado? Você fez de tudo pra eu não me aproximar daquela maldita gala.

- Não. Quer dizer… David, me disseram que nessa noite era minha chance de eu tentar reconquistar você. Mas eu não sabia…

- Quem falou p´ra você? Quem foi que contou p´ra você que havia alguém na minha vida? Fala Carol. E não adianta dizer que não sabe quem foi.

Carol hesitou alguns segundos, e por fim disse:

- Foi a Pat.

- Eu não acredito. A Inês tinha razão o tempo todo. As duas conspirando pra me separar da Mel. Como foi que a Patrícia descobriu?

- Isso eu não sei David, ela nunca me falou. Mas foi ela que me mandou a mensagem e também que me disse pra eu segurar você na noite da Gala. Ela disse que era a minha grande oportunidade.

David esboçou um sorriso irónico na cara, antes de sair da sala e entrar no seu quarto. Carol, foi atrás dele, mas este ignorou-a. Estava demasiado chocado com tudo o que tinha ouvido.

- David, vamos conversar, por favor. Fala comigo.

- Falar? Conversar? Se eu nem vontade tenho de olhar pra você.

- Olha, eu sei que eu errei, que eu não devia ter mentido. Mas para e pensa um pouco. Se a Mel te amasse de verdade ela escutar você. Talvez até tenha sido melhor assim. David, olha p´ra mim meu anjo. Porquê você está arrumando suas coisas?

- Não me chama de anjo.

- Mas p´ra onde você está indo a essa hora? Você vai atrás dela?

- Não! Eu estou indo p´ra casa do Ruben porque se eu ficar aqui com você, eu tenho medo do que eu posso fazer. Nesse momento eu não suporto estar perto…

- David, - Carol, desesperada, soluçava. – Por favor. Não faz assim. Me escuta.

- Eu já escutei tudo. Agora é sua vez de escutar. Eu estou saindo, mas eu volto. E quando eu voltar, eu não quero mais ver você aqui, na minha casa. Entendeu?

- David… mas…

- Eu te dou uns dias porque sei que não é fácil nesta altura arranjar voo p´ro Brasil. Mas não pensa em abusar, porque eu sei como essas coisas funcionam. Eu não quero mais falar com você, olhar pra você ou ter qualquer tipo de contacto com você. Me esquece.

E sai do quarto, levando o essencial numa mochila, e deixando Carol de rastos, chorando. Esta sabia que agora sim, a história deles tinha chegado ao fim.

  •    

O dia abriu um pouco no sábado, e a Ana e eu resolvemos dar uma volta pelo centro comercial. O natal estava á porta e, apesar da situação difícil, gostava de ver e sentir o ambiente natalício. Aproveitava e procurava nova ocupação laboral. Havia sempre uma ou outra loja a precisar de alguém. À hora do almoço a Inês e o Bruno juntaram-se a nós.

- Preciso de encontrar uma prenda para os meus pais.

- Tão querido o nosso Bruno. Morar com os pais é no que dá. A primeira prenda é sempre para eles.

- Lá estás tu. Importas-te de pelo menos hoje não me aborreceres com as tuas coisas. Estamos em época de Natal. Paz, criatura.

- Eu dou-te a paz.

Como sempre, o Bruno e a Inês não podiam estar muito tempo juntos. Os dois faziam faísca. Eu e a Ana mantinha-mos a nossa distância, e a maior parte do tempo tínhamos de disfarçar uma gargalhada bem sonora. Acho que a Ana já partilhava da minha opinião. Eles tinham sido feitos um para o outro.

Entrei nalgumas lojas em que pediam colaboradoras e deixei o meu contacto. Se tivesse sorte, alguma me havia de contactar. Foi ao sair de uma destas lojas que comecei a sentir uma ligeira falta de ar e tontura. Tentei não dar muita importância ao caso, pois o cansaço físico e emocional da última semana muito contribuíra para isso. Continuei acompanhando o ritmo dos meus amigos, mas cada vez com mais dificuldade. Os disparates e as risadas continuavam. Lembrei-me que há já algum tempo que não me ria assim. Depois, a imagem do David apareceu-me tão nitidamente, como se tivesse realmente na minha frente. As vozes foram ficando cada vez mais longe e tive dificuldade em distinguir quem dizia o quê. A Ana estava mesmo ao meu lado, mas tive de abrandar o passo, pois o chão parecia-me fugir. Eles continuaram, um pouco mas alguém deu pela minha falta e olhou para trás. Eu estava parada no meio da multidão e a Ana, percebendo que algo se passava, deu meia volta e veio ter comigo. A Inês e o Bruno riam, e ouvi alguém perguntar:

- Mel? Estás tudo bem?

A cara da Ana foi a ultima coisa que me lembro de ter visto. Tentei agarrar o seu braço, mas foi tarde demais…

  •    

O jogo do Benfica já tinha terminado, e estes haviam perdido. Nestes dias a “ Catedral” ficava sempre mais vazia. O desânimo contagiava toda a gente. A Inês dava graças a Deus por não haver quase ninguém no restaurante. Ela obrigava-se a estar ali naquele dia. A sua mente estava longe, muito longe dali. Lá dentro, o Bruno limpava a loiça muito calado. Todos tinham reparado que algo se passava com aqueles dois, mas ninguém sabia o porquê. A Inês arrumava as bebidas por trás do balcão, mas fazia-o quase instintivamente, sem olhar para o que estava realmente a fazer.

- Oi Inês, tudo bom?

Ela levantou os olhos e viu o David na sua frente.

- Posso falar com você?

- Olá David. Desculpa não te vi. Precisas de alguma coisa?

- Eu preciso falar com a Mel. Ela está aí?

- Não David… A Mel não trabalha mais aqui.

- Como não trabalha mais aqui?

- Ela despediu-se, logo no dia a seguir á Gala.

- Porquê você não me disse nada?

- Porque ela não deixou. Ela não quer que tu saibas mais nada da vida dela.

- Mas eu preciso falar com ela. Não posso esperar mais tempo. Eu dei espaço pra ela se acalmar, como você disse. Mas agora não dá mais. Quer saber? Tou indo lá na casa dela, e é agora.

- Não vale a pena David. Também não a vais encontrar lá.

- Não vai me dizer que ela também mudou de casa?

- Não…

- Então onde ela está, Inês? Me fala, por favor?

- Ela… A Mel está no hospital!

publicado por nuncamaissaiodaqui às 23:25

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Vou postar aqui a fan fic da Sandra. Espero que gostem :)
Agradecimento
Muito obrigada a todas que comentam a fan fic :D