22
Out 10

Passei os dias seguintes praticamente enfiada na faculdade. Ia a todas as aulas, colóquios, ensaios, e nas horas mortas aproveitava e ia até á biblioteca pesquisar. Tudo para não pensar no David. Nunca mais o tinha visto ou tido notícias dele. Não desde a noite em que terminara tudo. Ele também não me tentara contactar mais. E eu cortara com tudo o que tivesse a ver com ele. Até me despedi do restaurante, e esse foi o último dia em que pus os pés no estádio do meu glorioso. As saudades estavam a matar-me por dentro, mas continuava firme na minha decisão. Decidi dedicar-me, durante os próximos tempos, aos estudos. O Jorge tinha sido um querido, como sempre, e pagara-me o ordenado por inteiro mais os subsídios. Não tinha de o fazer, mas fez. Esse dinheiro extra deu para pagar o vestido estragado que aluguei para levar á maldita gala, e o resto que sobrou guardei, pois não sabia o tempo que ficaria sem trabalho. Também tive de falar com a D. Marisa, e essa foi uma conversa mais difícil. Ela estava presente na gala e ouvira tudo o que a Pat dissera. Tive sérias dificuldades em encara-la, mas no fim até foi muito simpática. Disse-me que lamentava por tudo o que tinha acontecido, e principalmente pela minha saída da claque. Agradeci e sai o mais rápido que pude. Mais do que ao David, queria evitar a todo o custo um encontro com a Pat. Não sei o que poderia fazer. No mínimo esganá-la. Apesar de tudo, tive pena de deixar a claque…

Véspera de fim-de-semana e a Inês vinha jantar connosco. Ela e a Ana faziam de tudo para passar a maior parte do tempo que pudessem comigo e distrair-me. E isso estava a fazer-me muito bem. Quando estávamos as três juntas só dizíamos disparates, apesar dos tempos não serem para risota. Muito cuidadosamente, elas evitavam o assunto David. Nesse dia eu chegara mais cedo a casa e decidira que era altura de arrumar mais um pouco esse assunto. Haviam muitas coisas que me faziam lembra-lo, quando o que eu mais queria era esquecê-lo. A Ana estranhou quando entrei com uma caixa enorme e a pousei no chão da sala. De seguida fui até ao quarto. Esta, seguia-me com o olhar, atentamente.

- Para que queres esta caixa?

- Já vais ver. – Respondi.

Quando regressei á sala, vinha carregada…

- Essa não é a tua agenda?

- É. Comprei uma nova, por isso já não vou precisar dela. – E atirei a minha agenda de estimação para dentro da caixa.

- Mas o que é que tu estás a inventar, rapariga?

- Não estou a inventar nada. Estou a virar a página, a despedir-me… Preciso de me desfazer destas coisas…

- E vais jogar isso tudo fora?

- Não sei o que vou fazer, mas espero um dia ter coragem de mandar esta caixa porta fora. Para já, vou guardar tudo aqui, e depois a Inês leva.

- E já falaste com ela?

- Ainda não. Mas ela vai concordar.

Tinha trazido o vestido que o David me deu a primeira vez que fora a casa dele, a agenda, responsável pela nossa primeira saída na casa do Ruben, as rosas que eu cuidadosamente secara e guardara, e muitos outros objectos que me faziam lembrar os momentos que tínhamos partilhado. Depois fui até á estante e peguei nos dois volumes que me oferecera pelos anos. Adorava aqueles livros quase tanto como o adorava a ele. Namorei-os durante meses, e foi a melhor prenda que alguém me poderia ter dado. Hesitei.

- Também vais guardar esses?

- Hum… Não sei…

- Deixa de ser parva, Mel. Não tem mal nenhum ficares com os livros. Aliás, podes ficar com tudo…

- O problema não é esse, mas o que eles me recordam.

- Olha, então deixa estar o que já tens dentro da caixa, e volta a pôr os livros no sítio. Se tens dúvidas então é melhor deixares como está, certo?

- Acho que sim.

Voltei a pôr os livros na estante, aliviada por me ter deixado convencer, o que não fora difícil. Nesse momento chega a Inês.

- Olá, que fazem? Hum, que cheirinho bom…

- Já sabes que jantar cozinhado por mim cheira sempre bem.

- E tu, o que fazes Mel? Que caixa é esta?

- Estou a guardar as coisas que me fazem lembrar o David. Quando acabar tu levas para a tua casa, ok?

- Eu? Mas porquê?

- Porque ainda não sei bem o que fazer com isso, e porque não tenho espaço para guardar uma caixa desse tamanho. Vá lá, - Disse em tom meigo, de suborno, e abraçando-a, - Tu prometeste que me irias ajudar a ultrapassar esta fase…

- Olha podes ultrapassa-la dando-me esse vestido que é lindo. Tu realmente… Alguma vez eu me ia desfazer de uma coisa destas.

- Quando eu finalmente ganhar coragem para me desfazer de tudo, nessa altura podes ficar com ele.

- Hum, bem posso esperar sentada… Sabes que ele hoje esteve lá. Foi a primeira vez depois de vocês acabarem.

- Inês, não quero saber.

- Olha, tu é que estás a mexer no passado. E além disso eu acho que devias ouvir o que eu tenho para te contar. Mesmo que não mude nada…

Sentei-me no sofá fingindo-me amuada. A verdade é que estava curiosa para saber novidades sobre o David. A Ana chamou-nos para o jantar nesse momento, e a Inês aproveitou e começou a sua narração.

- Esta tarde a Pat esteve lá também com as restantes meninas da claque. Andam á procura de novos membros, e eu aproveitei e disse-lhe umas verdades. Ela fingiu-se de santa, que não tinha feito nada e que tu saíste porque quiseste. Mas a mim não me engana ela. Ela e a Carol estão metidas nisto até ao pescoço. Bom, mas mais para o fim da tarde apareceu então o menino bonito. Tinha um ar um bocado abatido. Ainda não te tinha dito mas ele tem perguntado por ti todos os dias, através do Ruben, é claro. Eu não tenho dito nada de mais, só que tu vais andado, mas aconselhei-o a dar-te espaço. Por isso é que ele nunca mais te disse nada. Mas hoje foi ele pessoalmente perguntar por ti. Ele ainda não sabe que tu já não trabalhas lá.

- Nem precisa saber. E vocês livrem-se de lhe dizer alguma coisa. Ele tem tanto a ver com a minha vida, como eu tenho com a dele.

- Eu também não lhe disse nada. Pelo menos sobre ti. Mas em relação ao resto não fui capaz de ficar calada. Mel, tu desculpa, mas ele precisava de ouvir umas quantas.

- O que lhe disseste?

- Ele contou-me o que se passou naquela noite, que a Carolina estava desesperada por causa de um rapaz de quem gostava, e que as coisas tinham corrido mal. Enfim, uma historia da treta que eu não engoli. Quando ele acabou eu disse-lhe para ele abrir os olhos, que o que se passou naquela noite não foi coincidência, e que a Pat tinha descoberto que vocês namoravam de alguma maneira. Não é preciso ser-se muito inteligente para somar dois mais dois. E depois ainda me ouviu. Ah pois, que eu não sou de estar calada. Nem que a outra estivesse a morrer, se tinha coisas combinadas contigo não tinha nada que faltar. Ele deixou-te entrar na toca do lobo completamente sozinha, e estava á espera de quê? Beijinhos? Os homens realmente, são todos iguais.

- Então e ele, o que disse? – Perguntou a Ana, mais ansiosa do que eu.

- Não disse nada. Não tem argumentos. Ficou pensativo e depois foi-se embora. Mas a cara dele confirmou o que eu digo desde o inicio, Mel. Ele errou, eu não digo que não. Mas eu tenho a certeza absoluta que o David não teve nada a ver com aquilo. E ele gosta de ti. Vê-se na cara dele. Se eu não fosse tanto tua amiga, e não tivesse assistido de perto ao teu sofrimento, até tinha pena dele.

  •   

As palavras da Inês provocaram dúvidas no espírito do David. Ele conhecia a Carol há muito tempo, ela não faria uma coisa dessas. Ou faria?

Quando chegou a casa e abriu a porta ia decidido a ter uma conversa muito séria com ela.

- Carol, onde você está?

- Tou no banheiro, mas já tou saindo.

Enrolada numa toalha e de corpo meio molhado, Carol saiu do banho e foi ter com o David, beijando-o na face. Este corou.

- Olá anjo.

- Carol, preciso falar com você. É coisa séria.

- Nossa, que cara é essa? Não me diga que brigou de novo com a… Você sabe com quem.

- Não, eu não encontrei com a Mel. Mas tem uma coisa que tá me deixando na dúvida.

- O quê David, fala?

- Carol, quando você chegou, você me disse que tava só de passagem.

- É, eu disse. Mas aí você sabe que a Pat acabou me convidando pra assistir á gala, mas aconteceu tudo aquilo, e você tem estado tão mal que eu resolvi ficar mais uns dias, até você melhorar. Mas, eu já tinha explicado pra você, porquê tá me perguntando de novo?

- Carol, eu preciso que você seja sincera comigo. Porquê você veio pra cá?

- Ué, porquê… eu… não tinha onde ficar.

- Eu tou perguntando, porquê você veio pra Portugal? E quem é esse cara que você me falou que tava apaixonada por ele?

Carol mordeu o lábio e fitou os pés.

- Carol, me responde. Como você veio parar aqui na minha casa, justo naquele dia?

- A verdade… é que não existe cara nenhum. Ou melhor, existe sim, mas esse cara por quem eu tou apaixonada, é você…

publicado por nuncamaissaiodaqui às 23:53

Ai, que raiva, agora para além da Pat, tb esta Carol...
Só me apetece apertar-lhes o pescoço...
Muito bom!!! Isto só dá vontade de mais e mais...
Continua

Beijinho
Elsa a 23 de Outubro de 2010 às 00:10

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Vou postar aqui a fan fic da Sandra. Espero que gostem :)
Agradecimento
Muito obrigada a todas que comentam a fan fic :D