03
Out 10

                                                           

Capítulo XXVI - A intrusa

 

- Carol? É você mesmo?

- Olá David! Sou eu mesmo.

A minha postura imóvel e estupefacta contrastava com a explosão de movimentos e alegria que um reencontro traz. David correra para aquela rapariga, que eu ainda não conhecia, tão rapidamente que eu quase nem dera por isso. Eu continuava parada em frente à sua porta e assistia a toda aquela cena como uma mera espectadora, mas cada vez mais intrigada, enquanto o meu namorado abraçava uma perfeita estranha para mim.

- Quando você chegou? Porque não avisou que vinha?

- Decisão de última hora. E acabei de chegar. Espero não estar atrapalhando nada…

E olhou na minha direcção. Nesse momento também o David parece ter-se dado conta que eu ainda me encontrava ali e veio finalmente ter comigo. Puxando-me pela mão, aproximou-nos da tal Carol.

- Claro que não está atrapalhando. Deixa eu te apresentar, esta aqui é a Mel.

- Muito prazer Mel. – Disse, aproximando-se e dando-me dois beijos na cara.

- Olá! – Disse, timidamente.

- Mel, essa aqui é a Carolina, uma amiga muito querida.

- Pode me chamar de Carol.

Sorri. O David olhou para mim e reparou no meu pouco à vontade. Tentou quebrar o gelo.

- A Carol e eu a gente, se conhece desde adolescente. Deixa eu abrir a porta e a gente conversa melhor lá dentro.

- É melhor eu ir andando David. – Disse.

- O quê? Mas porquê Mel?

- Porque nem todos estamos de folga amanhã, e vocês devem ter muita coisa para pôr em dia.

- Se for por minha causa pode ficar. Eu que não avisei que vinha.

- Não, eu tenho mesmo de ir.

- Mas, Mel, eu pensei que…

- Tudo bem David. A gente amanhã fala-se.

- Se você prefere assim, eu te levo p´ra casa então.

- Não é preciso, eu apanho um táxi até à faculdade que o Jipe ficou lá. Não te preocupes.

- Nada disso. Eu levo você . Tá tarde e é perigoso ficar andando na rua a uma hora destas. Carol, você se importa de esperar lá dentro? Eu não demoro.

- Ai, tou me sentindo tão mal. Eu não queria atrapalhar vocês.

- Não atrapalhou. Eu volto já.

Despedi-me da Carol e fiz o caminho de regresso com o David. Foi só quando entrámos no carro e começámos a andar que tive finalmente coragem de lhe perguntar.

- David, tu e a Carol… quer dizer, vocês parecem ser bons amigos. Demais até…

- A Carolina foi minha primeira namorada. Oficial… Quando eu vim p´ra Portugal ela estava estudando lá, e vinha aqui me ver de vez em quando. Mas aí a distância acabou falando mais alto e da última vez que ela esteve cá nós decidimos terminar. Já não havia mais aquela chama entre a gente, sabe? Mas continuamos amigos. A Carol é uma excelente pessoa.

- Sim, parece ser. – Disse, mas o meu ar era de quem não estava muito convencida disso.

Chegámos à faculdade e preparava-me para descer quando ele me agarrou pelo braço.

- Lamento pela nossa noite. Prometo que vou te recompensar.

- Não faz mal. Não podias mandar a rapariga embora…

- Você não tá com ciúmes, está?

- Não… - Disse, mas neguei de tal maneira que o David percebeu imediatamente o que me ia na alma e começou a rir.

- `Tá com ciúmes sim. Boba.

David puxa-me para ele e aproximando os seus lábios dos meus, beijou-me, ternamente, apaixonadamente.

- A Carol é como uma irmã para mim. Não tem mais nada entre nós. É de você que eu gosto, é você que eu quero. É com você que eu estou.

- Eu sei, e não quero que penses que estou insegura, mas entendes…

- Entendo. Se fosse comigo, se aparecesse aí um cara dizendo que era seu amigo mas que já tinha sido algo mais, eu também me sentiria assim. Mas nós temos um passado, e esse passado não nos inclui. E temos que saber lidar com isso. Eu sei que não é fácil, mas eu preciso que você confie em mim. Eu nunca iria fazer nada que magoasse você. Gosto demais de você.

Sorri. O David tinha este estranho poder de me acalmar. E no fundo eu sabia que ele estava a dizer a verdade. E tinha razão também. Não podia cobrar algo que ele ainda não tinha feito. Mas havia outra coisa que me preocupava.

- E em relação a nós? Ela viu-nos…

- Não se preocupa com isso, não. Eu vou falar com ela. Eu tenho certeza que ela não vai dizer nada.

Sorri mais uma vez. Disse ao David o quanto tinha adorado aquela noite, ele deu-me novamente as rosas esquecidas no carro, despedimo-nos com um beijo e cada um seguiu o seu caminho. Mas o meu era muito mais desinquietante.

  •   

David não demorou muito a chegara casa. Àquela hora da noite não havia muito trânsito. Quando entrou em casa, Carol estava completamente à vontade, sentada no sofá a ver televisão e bebendo um sumo.

- Espero que não se importe, mas fiz um assalto no seu frigorífico. Tava  morrendo de sede.

- Claro que não me importo. Falei p`ra você ficar á vontade.

- Ai David, estou me sentido muito mal. Atrapalhei sua noite, não foi?

- Deixa isso p´ra lá. Me fala de você. Que milagre foi esse que fez você vir para Lisboa assim, de uma hora p´ra outra?

- Então, foi uma decisão de momento. Uns amigos me convidaram para ir para Paris ter com eles e eu pensei em fazer paragem aqui. Assim mato saudades de todo mundo.

- Que bom. Faz tempo que a gente não fala.

- Faz tempo mesmo. Eu estou vendo que você tá namorando. Você não tinha me falado nada.

- É. Não tem muito tempo. Na verdade hoje foi nosso aniversário de um mês.

- Verdade? Ai meu Deus! Agora fiquei mesmo em baixo. Que sentido de oportunidade que eu tenho. Eu devia ter ligado, mas estava tarde e eu pensei que você estivesse em casa.

- Já disse para você esquecer.

- Ela deve estar me odiando.

- Que nada. A Mel não é assim. Ela é muito meiga e nunca vi ela falando mal de ninguém. É especial…

- Hum! Está mal mesmo hein? Você está vidrado sério nela.

- Acho que estou, sim. E eu queria te pedir uma coisa.

- Claro. Fala.

- Nós ainda não contámos a ninguém sobre nós. Você sabe, com a minha profissão, todo o mundo querendo saber coisas, e a Mel também tem a vida dela… Para evitar confusão a gente decidiu assim. Manter tudo no segredo, pelo menos por agora.

- Claro, eu compreendo. Eu não senti tanto porque no Brasil você não era conhecido, mas se fosse comigo eu ia querer a mesma coisa. Eu imagino o que deve haver de garotas correndo atrás de você…

- Nem me fala disso. Não são tantas assim…

- Com essa cara de anjo que você tem, me enganada David Luiz, que eu não te conheço... Eh, agora é minha vez de pedir uma coisa p´ra você. Será que eu posso ficar aqui, só por esta noite? É que já está tarde e eu não conheço bem Lisboa. Faz tempo que eu não venho cá. Desde que a gente…

- Tudo bem, não tem problema nenhum. Eu ia sugerir isso mesmo. Você sabe ainda onde é o quarto dos hóspedes, não sabe?

- Pode deixar, que essa casa aqui eu conheço… e bem!

  •   

No dia seguinte eu estava em pulgas para saber o que tinha acontecida depois de ter deixado o David sozinho com a sua ex-namorada, amiga, irmã. Mas ele estava de folga, por isso não havia hipótese de lhe falar. E mesmo que houvesse, nãi ia agora perguntar-lhe nada, especialmente depois da conversa que tivéramos quando me deixou. Mas estava capaz de rebentar. Mal acabei as aulas de manhã e corri para a “ Catedral”. Precisava de falar com a Ana e com a Inês. Precisava de partilhar este aperto e esta ansiedade que me ia no peito. A caminho do estádio, mandei mensagem à Ana para que tirassem um tempinho. Precisava mesmo falar com elas. Principalmente com a Inês. Talvez ela conhecesse essa Carolina.

- A Carol está cá? Como é que isso foi? – Perguntou a Inês incrédula, depois deeu gter contado a história da noite anterior.

- Não sei. Achas que eu lhe perguntei alguma coisa. Fiquei foi sem reacção…

- Ai se fosse comigo eu queria saber. Acho que fizeste muito mal em teres vindo embora. Eu tinha ficado lá.

- Pois, mas eu não me quis intrometer.

- Intrometer? A ex-namorada está á porta de casa do teu namorado, aparece assim do nada, sem avisar, e tu é que não te queres intrometer?

- Inês não estás a ajudar. Eu só preciso de saber se tu a conheces.

- Sim, mais ou menos. Falei com ela duas ou três vezes, quando ainda namorava com o David e vinha aí. É simpática mas mais do que isso não sei.

- E tu viste-os juntos? Quer dizer, como é que eles eram?

- Como um casal de namorados, Mel, que raio de pergunta. Se te estou a fazer ficar sentir mal, então nem devias perguntar-me isso.

- Eu sei, mas preciso saber.

- Olha amiga, o que tu precisas de saber é que o David gosta de ti. E o que é que essa outra veio cá fazer, que de boas intenções está o Inferno cheio.

A conversa com a Inês aumentara ainda mais o meu desassossego. Não consegui parar de pensar em mais nada. E onde estaria o David? Estaria com ela ainda? Já passava da hora do almoço e ainda não tinha dito nada. Eu sei que ele precisava de descansar, mas dormir até meio da tarde?

Estava eu ás voltas com os meus pensamentos quando vejo entrar no restaurante o objecto dos mesmos, dirigindo-se para mim.

- Olá Mel, tudo bom?

-Tudo. E tu, já descansaste da viagem?

- Sim, descansei bastante. A cama do David é óptima para relaxar.

Empalideci. Será que eu tinha ouvido dizer que ela tinha dormido na cama do David?

- O… Quê?

- Ai Mel, desculpa, não foi isso que eu quis dizer. É que ontem já estava tarde e eu acabei dormindo no quarto de hóspedes, lá na casa do David. Mas eu queria conversar com você, pode ser?

- Sim. – Respondi, ainda sem pinga de sangue. Levei-a até uma mesa mais escondida e sentei-me com ela.

- Só não posso demorar muito.

- Claro, eu entendo. Não vou tomar muito do seu tempo. Eu só vim aqui porque o David me contou sobre vocês e que estão namorando escondidos de todos. Eu queria que você soubesse que eu não vou contar p´ra ninguém, pode confiar. Eu sei o que isso é, namorar com figura pública.

- Obrigado!

- Não precisa agradecer. Eu só não queria que você ficasse preocupada. E desculpa se eu ontem atrapalhei seus planos. Se eu soubesse que ele estava namorando, eu não teria ido lá em casa.

- Não há problema, eu entendo.

- Então não está chateada comigo?

- Não, está tudo bem, a sério.

- Pôxa, bem que o David falou que você é muito legal. Acho que a gente vai se dar muito bem.

- Claro…

Levantei-me, pronta a retomar o meu serviço, mas fui ainda impedida pela Carolina.

- Mel.

- Sim?

- Não precisa ter medo. O David está completamente apaixonado por você. Eu sei, eu conheço ele.

Baixei os olhos e voltei ao trabalho. E, mesmo depois de ter ouvido aquelas palavras, o nó que sentira o dia todo, estava agora mais apertado.

 

 

 

publicado por nuncamaissaiodaqui às 01:02

não há mais? :(
Fabi a 9 de Outubro de 2010 às 19:08

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