07
Dez 12

 

- O que é isso, Pat? Você ficou maluca, garota?

Da entrada eu assistia a uma cena que me fez gelar o sangue, e ficar completamente sem reacção ao ver outra agarrada e aos beijos com o David. Mas aparentemente, a surpresa não fora só minha. O Beijo que surpreendi não durou mais de dois segundos, seguido de uma reacção rápida de afastamento. David, agarrara Pat pelos braços e conseguira desprendê-la de um abraço tão apertado que me fez lembrar as pinças de uma lagosta pronta a cortar a sua refeição ao meio… Vá se lá saber porquê.

- David! David eu amo-te! Eu estou completamente apaixonada por ti. – Dizia Pat num tom misto de súplica e sedução. – E eu sei que tu também sentes..

- Sinto? Que sinto o quê? Eu amo a…

- Mel?! – O rosto da traidora abriu-se num sorriso ao pronunciar o meu nome.

David virou-se imediatamente e vi-o empalidecer quando notou a minha presença. Eu continuava no mesmo sítio, não me movera um milímetro. Depois do choque inicial, parecia que o meu cérebro deixara de funcionar, de processar toda e qualquer informação. No entanto, estava bem ciente do que acabara de ver e ouvir, e ao contrário do que podia esperar, as forças não me abandonaram, as pernas não cambalearam, e eu continuava ali como se de um muro se tratasse. Calmamente, fui avançando na direcção dos dois sem nunca tirar os olhos do rosto da Patrícia, sem sequer hesitar. Á medida que ia avançando notava as mudanças na sua expressão. Passou de sorriso vitorioso, a sorriso forçado até finalmente me dar um daqueles seus olhares de superioridade falso que tanto me afectavam no passado. Tomei isto como um sinal do desespero que a atingia, e era mais do que evidente que o facto de a estar a enfrentar a apanhara completamente de surpresa. David tentou falar quando passei por ele, mas ignorei-o e ele desistiu de continuar. Há já muito tempo que tinha “negócios” pendentes com a Pat, e estava na hora de os resolvermos de uma vez por todas. Parei a poucos centímetros dela. Os saltos que eu usava faziam-me bem mais alta do que o habitual e forçaram-na a olhar para cima.

- Patrícia! – Comecei por dizer. – Estás á espera de ganhar o quê com esta atitude ridícula?

Ela sorriu novamente e respondeu:

- Ridícula? Ridícula és tu que acabas de ver o teu homem aos beijos com outra e ainda te achas única, especial.

Nesse momento, David tentou interferir e justificar-se.

- Epá! Peraí. Eu não beijei ninguém não, você é que saltou p´ra cima de mim …

- Ora David! Queres enganar quem? Sim, eu tomei a iniciativa, mas tu podias muito bem teres-te esquivado. Não me vais agora dizer que eu te obriguei a alguma coisa. Um homem desse tamanho, forte e era dominado por mim? Essas desculpas podem servir para a Mel, mas a mim não me enganas tu.

- Quem tá querendo enganar alguém aqui é você. Você me chamou aqui dizendo que precisava me contar uma coisa importante, você me pegou assim, do nada, dizendo que tava apaixonada por mim. Eu nunca…

- PAREM OS DOIS! – Gritei!

David franziu a testa com ar surpreso. Nunca antes me ouvira gritar assim. Até a Pat engoliu em seco antes de voltar ao seu ar natural de quem controla tudo e todos. Quanto a mim, sentia o estômago ás voltas num misto de raiva e dor e pena. A minha vontade era a de matar a Pat, literalmente. Mas não queria descer ao seu nível. E, no final de contas, apercebera-me de que tudo aquilo não fora mais do que um esquema desesperado, uma última tentativa para me separar novamente do David. Mas desta vez eu não estava disposta a facilitar-lhe a vida. Desta vez não iria fugir, nem ter medo. Pelo contrário. Eu estava disposta a lutar pela minha felicidade. E essa felicidade estava ali, mesmo ao meu lado. Respirei fundo e voltei a aparentar a mesma calma com que começara, mas sentia algo a crescer dentro de mim. Algo contrário a tudo o que tentava passar para fora.

- Há muito tempo que nós duas temos algo pendente. Tu nunca gostaste de mim. Eu também não morro de amores por ti. A diferença é que tu sempre tentaste fazer da minha vida um inferno. Foste tu que armaste tudo para que a Carolina viesse do Brasil e aparecesse aqui do nada.

- Não, Mel! – David interveio mais uma vez. – Quem falou p´ra Carol vir foi…

- A Pat! Eu não sei que história é que te contaram, mas foi ela que falou com a Carol. Elas combinaram para que tu nunca aparecesses na Gala, e a Pat fazia o resto. Foi um belo discurso aquele. Foi tão bom que eu sai de lá a correr, completamente de rastos. Cheguei até a acreditar que o David tinha parte naquilo tudo. Que ele só andava comigo para o gozo. Eu estava bastante insegura em relação a nós os dois, tinha demasiadas duvidas por tu seres quem és e eu… bem, eu pensava que não estava á tua altura. A Pat percebeu isso, e usou-o contra mim.

O rosto da Patrícia voltou a iluminar-se. Era notória toda a satisfação que sentia ao relembrar a noite em que me humilhara.

- Depois de ter conseguido o que queria, fez-se passar por uma pessoa que nunca foi. Ofereceu-te o ombro amigo, também ela havia sido uma vítima. Ela soube exactamente onde nos atacar. Mas isso não lhe valeu de nada. Achas-te mesmo que ias conseguir alguma coisa?

- Isso é uma história muito bonita, Mel… Mas não achas que já és muito grandinha para acreditares em contos de fadas? O David conhece-me. Ele sabe que eu nunca iria fazer isso. No meio de tanta alucinação, só acertaste numa coisa. Tu não mereces o David. Nunca soubeste lutar por ele. Á primeira dificuldade desististe, fugiste. Que raio de amor é esse que tu dizes sentir se nem acreditavas nele? Eu jamais duvidaria do meu amor pelo David. Eu luto pelo que quero, sou uma vencedora, tal como ele. A vossa relação está condenada, nunca vai dar certo. Eu sempre estive lá para ele. Eu sempre acreditei nele, dei-lhe apoio e atenção. Nós partilhámos algo. Eu sou sua semelhante. E tu? Tu não passas de uma doente com os dias contados, e se não fosses tão burra já tinhas percebido que ele só está contigo por pena.

“BAC!”

Por esta altura já só ouvia partes do que a Pat dizia. Tentara manter adormecida toda a raiva que me consumia desde que entrara na sala e a vira aos beijos com o David. Mas não consegui aguentar mais. Não sei bem em que momento fechara a mão. Sequer me apercebi de ter levado o braço atrás. Mas lembro-me de ter depositado nele toda a força, toda a ira que sentia naquele instante, quando o meu punho atingiu em cheio uma das suas faces. A cabeça rodou para um dos lados, ouve um desequilíbrio e Pat recuou dois passos para trás. Pelo canto do olho consegui ver o queixo de David cair com tamanha surpresa. Pat levou imediatamente as mãos á cara, mas não se atreveu a enfrentar-me. Eu mantive-me imóvel, de respiração regular e expressão serena.

- Eu estava a dever-te uma… Agora, estamos quites!

Toda a energia que sentira a fluir dentro de mim, acalmara. Pela primeira vez olhei para aquela figura á minha frente e vi-a, em toda a sua mesquinhice e pequenez. Perguntei-me como era possível um dia ter-me deixado intimidar por tal pessoa. Como me deixara tão insegura, como me sentira tão mal comigo própria. Pela primeira vez via tudo claro, tal como fora e como era. E senti-me orgulhosa por me ter libertado de tal sentimento, de ter tido coragem de a enfrentar e de não cair em mais uma das suas intrigas. É claro que agredi-la não estava nos meus planos, apesar da vontade enorme que tinha em fazê-lo. Evitei-o o máximo que pude, e no fim… foi a cereja no topo do bolo.

Dei meia volta, olhei para David que continuava de queixo caído, fixando-me, e disse no tom mais natural do mundo:

- O Ruben está à tua espera para apresentarem o prémio.

Depois, no mesmo passo calmo e lento, afastei-me. Um pequeno sorriso vitorioso surgiu-me dos lábios, e tive de calar todos os gritos eufóricos que teimavam em querer sair cá para fora. Não me apercebi de que nunca se deve virar costas a quem é desprovido de moral, nunca se deve baixar a guarda a quem manipula os sentimentos dos outros e só se dá a conhecer realmente quando sente que já não tem saída. E fá-lo não por coragem, mas por desespero. Numa última tentativa de vingança, Pat lança-se na minha direcção, pronta a dar o troco. Mas desta vez, foi David quem interveio. Eu virei-me mesmo a tempo de o ver interpor-se entre nós, agarrando no seu braço e travando-a do seu propósito.

- Nessa aqui você não toca, não! – Disse, fitando-a directamente nos olhos.

- Ai! David… estás a magoar-me.

- Tá doendo? Óptimo. Da próxima vez que você se aproximar da Mel, ou de mim, vai doer muito mais.

Não consegui disfarçar mais a minha alegria quando ouvi o David defender-me. Este pôs o seu braço por cima do meu ombro, e afastámo-nos juntos, sem olhar para trás.

  •  

Quando regressámos ao salão, Ruben já tinha subido ao palco. À última hora David fora substituído por Ramirez, que acompanhou o “manz” na apresentação do prémio. Limitámo-nos a sentar, o mais discretamente possível, e a desfrutar do resto da Gala. A Pat já não voltou ao salão, e não voltámos a vê-la nem á saída do Casino. Ana estava curiosa para saber o que se tinha passado, mas não tivemos tempo de falar mais. Era suposto irmos todos sair assim que a Gala terminasse, mas David e eu decidimos ir antes para casa. Os eventos dessa noite tinham sido estonteantes para ambos. Despedimo-nos á pressa, entrámos no carro e seguimos para casa dele. Nem uma palavra foi dita durante toda a viagem. Eu estava finalmente a processar tudo o que dissera e fizera nessa noite, e custava-me bastante a acreditar no que tinha acontecido. David conduzia concentrado, e de vez em quando punha a sua mão por cima da minha e apertava-a. Não consegui perceber se tinha ficado desiludido comigo, por ter cedido á raiva que me tomara ou se me apoiava totalmente. Silêncio absoluto. Quando sai do carro, uma corrente de ar deu-me um arrepio e tentei proteger-me colocando os braços em volta de mim mesma. David apercebendo-se, despiu o casaco e colocou-o por cima dos meus ombros desnudados. Mas continuou sem falar. Comecei a temer que estivesse chateado comigo e fui invadida por uma inquietação irritante agravada pelo som abafado do elevador a subir. Quando finalmente entrámos em casa, ganhei coragem e perguntei-lhe:

- Ficaste chateado comigo… Pelo que eu fiz à Pat? Eu sei que não foi bonito, mas não consegui controlar-me mais. Eu andava com ela engasgada à meses e…

- Eu não estou chateado com você. – Disse com um sorriso triste. - Eu estou chateado comigo mesmo. Eu deixei que tudo isto acontecesse. Eu não soube te proteger. Eu acreditei numa mentira, eu preferi acreditar nisso. Eu te fiz sofrer. Por causa disso você se envolveu com um cara doente, doido, que quase te machucou sério. Se alguma coisa tivesse te acontecido, eu nunca iria me perdoar.

- David… Tu não tiveste culpa de nada. Tu não sabias o que andavam a tramar. E quanto ao Jaime, eu envolvi-me com ele porque quis. Achei que era o melhor para mim naquela altura. Enganei-me. Mas tu não tiveste culpa nenhuma.

- Eu tive sim. Eu te abandonei.

- Não. Tu seguiste o teu coração. Tu és uma pessoa generosa, capaz de tudo pelos amigos. E aproveitaram-se disso. Eu não quero que penses assim. Aliás, o melhor é nenhum dos dois pensar mais nisso. Passou, é passado. Não interessa mais. O que importa é que estamos juntos. E eu quero-te tanto…

Aproximei-me de David e acariciei-lhe os caracóis. Ele retribui com um beijo suave, lento nos meus lábios. Senti as suas mãos a puxarem o casaco que ainda tinha vestido para trás e inclinei-me para lhe facilitar a tarefa. Momentos depois, o corpete apertado ficou mais folgado e as suas mãos prenderam-me pela cintura, bem junto a ele. Fechei os olhos e deixei-o comandar todos os movimentos que fazíamos. Não demorou muito para que a parte de baixo do vestido caísse pelo chão e ele me pegasse ao colo, sentando-me no móvel do corredor da entrada. Comecei a desabotoar-lhe os botões da camisa, beijando-lhe a pele nua que aparecia. Ele encostou-me contra a parede e voltei a sentir um arrepio quando o frio da mesma tocou  nas minhas costas. Mas desta vez, o frio não tivera nada a ver com isso. Era ele, o seu toque, o seu cheiro, o seu corpo que me arrepiava. Inclinei a cabeça para trás e soltei um pequeno gemido quando o senti totalmente unido a mim. Abri os olhos, olhei o tecto por cima da minha cabeça. Os seus caracóis roçavam ao de leve pelo meu pescoço e pelo meu peito, e era a melhor sensação que jamais tinha sentido. Voltei a fechar os olhos, e lágrimas de felicidade rolaram pela minha face.

publicado por nuncamaissaiodaqui às 04:27

Vou postar aqui a fan fic da Sandra. Espero que gostem :)
Agradecimento
Muito obrigada a todas que comentam a fan fic :D