14
Set 12

                                                                                       

A Ana apertava-me o corpete roxo atrás, enquanto eu sustinha a respiração para este não alargar. Toda a semana fora uma só agitação em torno da Bendita Gala. David insistira em oferecer-me o vestido, uma vez que eu não tinha nada apropriado para a ocasião. E alugar outro nem pensar, dado o fiasco que fora da última vez. Assim, passara tardes inteiras á procura do vestido ideal e finalmente encontrara-o numa dessas lojas que eu jamais pensaria entrar. Era de um roxo escuro, dividido em duas partes: corpete e saia comprida, que armava ligeiramente e me dava certa facilidade a andar. O corpete era em estilo antigo, com cordões que apertavam atrás. O cabelo ficaria solto e a cair sobre os ombros desnudados. Já os sapatos tinham um salto um tanto alto demais para o meu gosto, mas a Ana dissera-me que assim não faria tanta diferença de altura do David e que em público ficaria melhor. Acedi então a trazê-los, apesar de saber que me iria ser bastante difícil suportá-los durante toda a noite.

Outra surpresa, esta bem mais agradável, era o facto de a Ana também ir á Gala… Com o Ruben. A explicação que me dera foi a de que o David falara com o Ruben para este a levar e eu não me sentir tão sozinha. E como o Ruben também não tinha par resolviam-se dois problemas. O David confirmou-me que tinha falado com o amigo, mas também só o fizera porque já há algum tempo notara uma certa cumplicidade entre os dois, algo com o qual eu também concordava. Fosse como fosse, a presença da Ana fez-me sentir bem mais segura. Pelo menos não me sentiria tão deslocada.

- Passa-me o rímel, se faz favor!

- Toma! – Disse. – A Inês não disse que vinha ajudar-nos?

- Disse, mas como ainda não chegou já não sei. Se calhar não conseguiu sair a tempo.

- Por este andar quando cá chegar já nós estamos prontas.

- Isto “Se” chegar…

A campainha da porta tocou nesse momento e eu corri a abri-la.

- Até que enfim!

- Desculpem, mas a “Catedral” hoje encheu e não consegui sair mais cedo. Trouxe o que me pediram.

- A Ana está no quarto. Ela é que precisa disso.

Inês dirigiu-se para o quarto com um modelador de cabelos, onde uma Ana bastante impaciente aguardava por um penteado.

- Que inveja que eu tenho de vocês. Assistir a uma Gala destas. Fazem ideia de quantas pessoas queriam estar no vosso lugar.

- Eu de bom grado daria o meu. – Murmurei.

- Não sejas assim, Mel. Duvido muito que tu trocasses o David por outra coisa qualquer.

- Eu não estou a falar do David. Estou a falar do meu lugar esta noite…

- …que é  junto do David. Por isso é quase a mesma coisa. Deixa de ser assim. Tens um homem desejado por muitas e que só tem olhos para ti. Convida-te  para ires a um evento destes para que todos te conheçam como sua namorada, oferece-te um vestido lindo… O que é que tu queres mais?

- Quero… Paz, normalidade e sossego.

- Pois, mas isso não vais ter com uma pessoa como ele, por isso habitua-te.

- Olha, e que tal deixarem-se de conversa e tratares do meu cabelo antes que eles aí cheguem e a gente se atrase mais.

Inês e eu trocámos um olhar de cumplicidade.

- Hum! Tu não és oficial mas estás muito rezingona. Pensava que só estavas a fazer um favor a uma amiga…

- E estou. Mas lá porque não vou entrar de mão dada, não quer dizer que não esteja nervosa também.

- OH! Tens razão. Estou a ser egoísta e a pensar só em mim. Desculpa, desculpa, desculpa!

Aproximei-me da Ana e abracei-a. Andara tão preocupada com o que poderia acontecer comigo que me esquecera que para ela também não ia ser fácil.

Inês esticou o cabelo da Ana num instante. Depois acabámos de nos maquilhar e quando estávamos a dar os últimos retoques recebo uma mensagem do David a dizer que ele e o Ruben estavam á nossa espera lá em baixo, no hall de entrada. Inês fez questão de ir na frente como que para nos anunciar. Antes de sair, espreitei pela porta e lá estavam eles, no seu fato de gala, gravata vermelha – ou não fosse esse um acessório de marca para uma ocasião destas. Achei o David o homem mais lindo á face da terra. O porte, os caracóis, o sorriso… tudo nele me encantava. Observei-o alguns segundos a brincar com o Ruben ao fundo das escadas, antes de aparecer na entrada. De inicio não reparou que eu me encontrava pronta a descer, foi o Ruben quem primeiro deu por nós e fez-lhe sinal, apontando. David voltou-se e vi, pela expressão que fez, que ficara tão encantado quanto eu ao vê-lo. Comecei a descer as escadas segurando o corrimão devido aos saltos dos sapatos, que não me davam confiança nenhuma. David não desviou o olhar nem por um segundo. Infelizmente, ao chegar ao fim tropecei e desequilibrei-me, e quase que caia se não fossem os reflexos rápidos dele que me seguraram a tempo. Tentei brincar com a situação para que não visse o quanto estava envergonhada.

- Eu e as minhas entradas triunfais…

David mantinha o mesmo sorriso para mim.

- Foi perfeita! Você, é perfeita!

- Menos quando estou de saltos.

David soltou uma gargalhada.

Ana acabara de descer também e pudemos então sair para a tão esperada” Gala do Benfica”.

  •  

Comecei a avistar as luzes do Casino do Estoril mal o David virou para a avenida de acesso ao mesmo. Senti o coração a bater-me mais forte no peito e uma certa agonia invadiu-me o espírito. “ Calma! Vai correr tudo bem! O David está comigo!”. Tentei pensar positivo mas na verdade estava aterrorizada com tudo aquilo. “Pelo menos desta vez sei que não vai faltar. Está mesmo aqui ao meu lado.” Olhei para o David na esperança que me tranquilizasse, mas estava demasiado ocupado na condução e a tentar furar por entre as pessoas amontoadas na rua, á espera para verem os seus ídolos. Quando finalmente estacionou numa zona mais calma, o coração pareceu querer sair-me pela boca. Ao longe os “ flashs” das câmaras fotográficas faziam vislumbrar vultos um tanto confusos para que me fosse possível identifica-los. Alguns pareciam ser jogadores, outros dirigentes e sócios, mas nenhum que eu conseguisse reconhecer. David saiu do carro, deu a volta, e como um perfeito cavalheiro abriu a minha porta estendendo-me a mão para me ajudar a sair. Depois entregou a chave a um dos empregados que estava por perto. Olhei em volta á procura da Ana e do Ruben, mas nem sinal deles. David deu-me a mão e seguimos os dois em direcção á entrada. Nos primeiros metros não se via ninguém, mas á medida que nos aproximávamos os gritos aumentavam de som, e os vultos que ainda há pouco não reconhecia começavam agora a ficar claros para mim.

- Eu vou precisar dessa mão ainda hoje! – Disse-me de repente.

- Hã? – Olhei para a mão que estava entrelaçada com a do David e dei-me conta da força com que a prendia. – Oh! Desculpa!

David riu. Continuámos em frente até chegarmos á zona dos fotógrafos e dos repórteres. Por todo o lado só se ouvia o nome “David! David Luiz!”. A minha cabeça estava zonza com tamanha algazarra. Assim, do nada, fomos invadidos por uma multidão de pessoas de microfones em punho que tentavam obter respostas para as suas perguntas. Nesta altura já não sabia bem para que lado me virar e por momentos perdi a noção do que quer que fosse. “ Onde é que eu me vim meter!”. Estava a ser cada vez mais difícil manter-me perto do David. De todos os lados era um “encosta e empurra” cada vez mais violento. De repente, num esticão mais forte, senti a mão do David separar-se da minha, enquanto era imediatamente afastada dele até o perder no meio da tanta gente interposta entre nós. Quase entrei em pânico. A minha cabeça mais parecia um cata-vento a tentar encontrar alguma cara conhecida, mas era inútil. Continuava sem saber da Ana ou do Ruben, e agora o David fora-me “arrancado” e arrastado para o meio de uma multidão de fanáticos pela bola. Fui tomada pelo mesmo sentimento de terror que senti na noite em que pela primeira vez me atrevera a entrar em tal círculo. As palavras que ouvira ditas pela Pat, de que não pertencia aquele lugar,  ecoavam pela minha mente e senti a temperatura do meu corpo a baixar rapidamente, até ficar gelada. Pouca a pouco fui perdendo o sentido das coisas até já não ouvir nada mais á minha volta. Somente as vozes na minha cabeça existiam, e estas misturavam-se com as cenas diante dos meus olhos. Lentamente, fui começando a andar para trás em pequenos passos. Sentia-me assustada e cada vez mais perdida. Tentei desviar a minha atenção para as pessoas que, calmamente, já tinham conseguido chegar á porta de entrada do Casino e preparavam-se para entrar. “ Por este andar não vou lá chegar.”, pensei. Quando pensava que aquela iria ser mais uma noite desastrosa, uma mão quente e suave parou sem aviso na minha, agarrando-a com força. Virei a cabeça e vi um David calmo e sereno mesmo á minha frente, sorrindo-me.

- Estás aqui! – Foi a única coisa que me ocorreu dizer.

- Falei p´ra você que eu não ia te largar!

E ao mesmo tempo entrelaçou os seus dedos nos meus e puxou-me para ele. O sorriso que mantinha e o calor da sua mão, novamente ligada á minha, foi o suficiente para que me acalmasse. “ Ele voltou! Sentiu a minha falta do seu lado, atravessou aquela barreira humana e voltou por mim!”. Inconscientemente comecei também a sorrir. David despediu-se dos jornalistas educadamente e continuámos até á entrada, desta vez sem mais paragens. E agora era ele quem prendia com força a minha mão.

Uma série de caras alegres e conhecidas circulavam por toda a entrada do Casino. A primeira pessoa que me saltou á vista foi o Eusébio. Estava acompanhado da sua esposa e conversava animadamente com Rui Costa. Parecia totalmente recuperado. Alguns jogares do plantel actual encontravam-se espalhados por ali, mas uma boa parte deles já havia entrado para o salão.

- David! – Ouvimos uma voz a chamar. Era o Ruben seguido pela Ana. Ao vê-los fiquei ainda mais animada.

- Onde é que vocês se meteram? – Perguntei ansiosa.

- Vínhamos mesmo atrás de vocês. Bem, viste só aquilo lá fora. É a loucura.

- Se vi? Vi até demais.

Senti a mão do David a puxar-me e segui-o. Por onde passávamos éramos cumprimentados por todos. Eu limitava-me a sorrir pois não sabia bem o que dizer. Felizmente ainda não tínhamos parado para falar com ninguém.

- Olha ali, manz. É o mister!

 Espreitei por detrás das costas do David e vi o treinador, Jorge Jesus, no meio da sala principal onde teria lugar a Gala.

- Vem! Eu quero te apresentar p´ra ele.

- Eu? A mim? – Perguntei, atónita. David riu-se.

- Claro. Tem mais alguém aqui comigo? Vem!

- Espera! – Detive-o. Estávamos mesmo prestes a entrar naquela que eu considerava ser a “toca do lobo”. David olhava para mim como se esperasse que eu lhe dissesse algo. Eu voltei a espreitar para dentro do salão. Não sei ao certo o que procurava mas queria ter a certeza de que conseguiria fazer aquilo sem mostrar o quão assustada me sentia. Comecei a percorrer com os olhos todas as pessoas que ali se encontravam. Muitas delas eram conhecidas, mas a maior parte não fazia ideia de quem fossem. Congelei ao pôr a vista em cima de alguém que não esperava encontrar.

- A Patrícia está cá?

Ana desviou o seu olhar para um canto ao fundo onde a Pat e outras raparigas da claque riam despreocupadamente.

- E então? – Perguntou. – Hoje não é como da outra vez. – E fez-me sinal com a cabeça na direcção do David, como que a dizer-me que ele estava comigo, não tinha nada a temer.

- Mel! – David posicionou-se mesmo á minha frente, olhando directamente nos olhos. – A gente vai ter que entrar aí.

- A sério? Pensava que depois disto tudo, dava-mos meia volta e saíamos pela porta das traseiras.

- Aí! Já está até fazendo piada. Essa é a minha Mel. Vem!

Respirei fundo e entrei finalmente no salão, sempre apoiada pela mão dele. Avançávamos calmamente no meio dos outros convidados na direcção do “mister”. Eu não conseguia tirar os olhos da Pat. Esta ainda não nos tinha visto. Senti a Ana bem próxima de mim, alguns passos atrás. Ela devia estar tão nervosa quanto eu, mas nunca deixou transparecer.

- Mister! – David chamou. – Fazendo charme no meio da sala?

- Olha o respeito, rapaz!

O há vontade com que falava a todos, era uma das coisas que mais me fascinava no David. Todos pareciam ter um carinho muito especial por ele. E ele mostrava-se sempre muito atencioso e brincalhão. O “mister” também era mais simpático do que eu imaginava. De todas as vezes que o vira sempre me parecera uma pessoa rígida e dura. Mas fora dos treinos era bem mais acessível. Por esta altura começava a descontrair-me e a aproveitar a noite. Nem o facto de estar na mesma sala que a Pat me incomodava já.

- Melhor irmos p´ro nosso lugar. Tá prestes a começar.

Os vários grupos de convívio que se tinham formado começaram a dispersar e a dirigir-se para os respectivos lugares. Pat deu meia volta e foi nesse momento que viu David. O sorriso que tinha no rosto iluminou-se, mas só por um breve instante. Assim que me viu surgir a seu lado, de mãos dadas, e precisamente num evento daqueles, percebeu o que se passava e mudou completamente de expressão. Senti o sangue gelar-me nas veias com o olhar que me lançou de alto a baixo. Consegui ver nitidamente o esforço que fazia para não explodir de raiva. David, que estava de conversa com Ruben, nem reparou. Eu fingi que não percebi e desviei o olhar.

- Mel, viste só o olhar que a Pat te lançou? – Ana aproximou-se de mim e falou quase num sussurro. Eu abanei a cabeça que sim. – Se os olhares matassem, tu já estavas estendidinha no meio do chão, amiga.

Fiz sinal á Ana para que falasse baixo. Não queria que o David se apercebesse do assunto. Aquele não era o momento. Continuámos então em silêncio até aos lugares marcados. Estes eram um pouco á frente, uma vez que David iria apresentar um dos prémios juntamente com Ruben. As luzes baixaram de densidade e o espectáculo começou. O David continuou sempre de mão dada comigo. De vez em quando lançava um olhar á Ana sem que ela se apercebesse. Apesar de sportinguista, parecia estar a divertir-se bastante. Acho até que ainda não se dera conta de que aquilo era o Benfica, e não o Sporting. E tinha a certeza de que parte se devia á companhia.

  •  

No final da primeira parte, David e Ruben foram chamados pela equipa responsável pela organização da Gala. Precisavam combinar umas últimas indicações para quando chegasse a sua vez. Ana e eu aproveitámos para fazer alguns comentários sobre a noite que ambas estávamos a ter.

- Ainda não consegui ver a Pat. – Disse, olhando para trás.

- Pois eu não faço questão nenhuma de a ver outra vez. Ana, pára de olhar para trás. As pessoas vão dizer o quê?

- Então, não vão dizer nada. Até parece que sou a única á procura para ver outras pessoas que aqui estão. Estas coisas servem sempre para se cortar na casaca.

- Eu não quero cortar na casaca de ninguém. Quero ficar aqui no meu canto sossegada.

- Sim! Não me digas que não te sentiste nem um bocadinho vitoriosa quando destes de caras com a víbora. Só o focinho dela disse tudo.

- Por acaso… soube-me bem! – Disse, com um sorriso malicioso. – Por esta é que ela não estava nada á espera.

Ana abafou uma gargalhada quando Ruben se aproximou.

- E o David? – Perguntei.

- Ficou lá atrás mas ele vem já.

Recostei-me no banco e revi na minha mente tudo o que até então se tinha passado desde que chegáramos. Esbocei um sorriso quando cheguei á parte em que a Pat descobrira que eu e o David estávamos de novo juntos. As luzes baixaram novamente em sinal de que estava prestes a começar a segunda parte. Olhei para a entrada mas do David nem sinal. O Ruben percebeu a minha preocupação e disse-me baixinho:

- Não te preocupes. Ele vem já.

Assenti com a cabeça e tentei relaxar com o resto da Gala. Mas á medida que os minutos passavam, a minha mente começava a tornar-se mais inquieta e já mal conseguia desviar os olhos da entrada. Por fim não aguentei mais e levantei-me.

- Vou ver se o encontro.

Ruben apontou-me que direcção tomar e, com todo o cuidado e descrição que poderia ter dirigi-me para a mesma. Mal saí, virei á direita até chegar a um corredor. As únicas pessoas que ali estavam eram seguranças ou organizadores. Passei por algumas entradas e, de repente detive-me numa delas. As vozes que me chegavam eram-me familiares. Aproximei-me mais um pouco e pude reconhecer a voz do David como uma delas. Sustive a respiração para melhor poder ouvir, mas nesse momento as vozes calaram-se. O coração começou a bater mais forte quando tive a ideia de entrar pela porta entreaberta. A dúvida assolava-me o espírito, mas finalmente decidi-me e entrei. As batidas fortes do coração foram substituídas por uma paragem completa quando vi a Pat e o David… a beijarem-se!   

 

 

 

 

publicado por nuncamaissaiodaqui às 00:13

comentários:
aquela Pat também -.-
Quando postas?
Anónimo a 23 de Setembro de 2012 às 12:12

Bolas pah! Que víbora! Nunca mais se põe no ligar dela...
Adorei.
Posta rápido.
Beijinhos
Mary a 29 de Setembro de 2012 às 22:10

Quando voltas a postar? Tenho muitas saudades de ler um capitulo teu.

Aquela Pat é mesmo uma bruxa, por favor nao separes outra vez o david e a mel eles merecem ficar juntos depois de tudo o que se passou.

Espero anciosamente o proximo rapido sff :D

Beijinhos
Maria
Maria a 8 de Outubro de 2012 às 16:42

Vou postar aqui a fan fic da Sandra. Espero que gostem :)
Agradecimento
Muito obrigada a todas que comentam a fan fic :D