21
Ago 12

 

Subi com o David até minha casa e sentei-o no sofá enquanto fui buscar algo para tratar da sua mão. Quando voltei vi a cara de sofrimento que fazia agarrado á sua mão direita. Apesar da situação não pude deixar de sorrir. Este deu pela minha presença e endireitou a sua postura, retomando o mesmo ar forte que tinha antes de o deixar. Ajoelhei-me no chão, mesmo á sua frente e muito cuidadosamente peguei no seu pulso.

- Deixa ver. – Disse enquanto observava com atenção os seus dedos. – Consegues mexer os dedos todos?

Ele fez uma tentativa sofrida e eu não insisti.

- Hum! A mão vai inchar. Pomos uma pomada e um pouco de gelo.

Fui até á cozinha buscar gelo e envolvi-o num pano grosso. Depois tirei a pomada e comecei a espalha-la por toda a zona inchada.

- Só o seu toque já está me deixando melhor.

Sorri. Mesmo magoado continuava a cortejar-me.

- Peço desculpa se te magoo, mas tenho de espalhar isto muito bem ou não vai fazer efeito. Eu sei que dói mas amanhã vais estar melhor, vais ver.

David olhava-me continuamente e eu fingia não perceber. Se me perdesse a olha-lo também iria com certeza desconcentrar-me do que estava a fazer, e podia magoa-lo sem querer.

- Deduzo que não tenhas muita prática nisto… em distribuir murros, quero eu dizer.

- Você tá brincando? Eu sou quase lutador profissional. Se eu não tivesse me saindo  tão bem jogando futebol, minha profissão seria lutador de boxe.

Soltei uma gargalhada. O David estava a sair-se muito bem, apesar das dores que devia sentir não soltou um “ai” e ainda brincava com a situação. Quando terminei peguei no gelo e pu-lo em cima da mão, recomendando:

- Deixa estar assim durante um bocado. O melhor será que não mexas muito a mão.

Nessa altura olhei para cima e reparei que tinha o lábio cortado.

- David, tens o lábio machucado também. Mas que raio é que vocês andaram a fazer, a servir de saco de pancada um ao outro?

Levantei-me para ir buscar algo que tratasse daquele novo ferimento, mas ele deteve-me.

- Não precisa se incomodar. Isto aqui não é nada. – Disse, enquanto se levantava e se chegava a mim.

- Não devias ter vindo.

- Eu precisava te ver, saber se você tava legal. Aquele cara não presta, Mel.

- Tu não o conheces. Ele tem estado sobre uma grande pressão. E depois o que aconteceu foi culpa minha. Eu devia ter sido sincera com ele desde o início e …

- Você não teve culpa de nada. Você não viu o jeito dele quando chegou na casa do Ruben. E antes disso lá no clube. O cara armou a maior cena… Ele me ameaçou, e ameaçou outras pessoas também. Mel, ele quebrou o carro do Ruben pensando que era o meu. Pessoas normais não têm esse tipo de atitude não.

- Eu sei David, mas tu devias ter deixado que eu falasse com ele primeiro. Ele era o meu namorado, era eu que tinha de resolver as coisas com ele.

- “Era” seu namorado?

- O quê? – Perguntei, sem perceber o que ele queria dizer.

- Você falou que ele “era” seu namorado. Não é mais?

- Era… é… eu disse que ele é meu namorado…

- Não, você disse “era”, passado. Eu ouvi muito bem.

- Eu disse que ele era… Não. Não é nada disso. Estás-me a baralhar toda.

- Ele não gostou quando você ficou do meu lado agora á pouco.

- Ele não devia ter começado a luta. Eu fiquei do lado de quem eu acho que tem razão. – E tentei sair novamente, mas David impediu-me mais uma vez. E desta vez agarrou-me bem forte pela cintura, e aproximou a sua cara da minha. Ficou tão próximo de mim que conseguia sentir a sua respiração.

- Você ficou do lado da pessoa que você ama. E não adianta negar. Eu vi a cara que você fez quando me viu caído no chão.

- Não fiz cara nenhuma. Levei foi um susto. – Disse, tentando disfarçar o meu embaraço e fugir do seu olhar. – Nunca tinha tido ninguém a brigar por causa de mim.

- Jura? Não sei se eu acredito nisso. Linda desse jeito, aposto que já teve um montão de caras brigando feio por você.

- Não brinques com coisas sérias. Isso não resolve nada, e eu detesto brigas.

- Eu também, sou de paz. Mas sou capaz de brigar com o mundo inteiro por causa da minha Mel.

E com esta desarmou-me por completo. Fiquei sem raciocínio e sem reacção. Até aqui conseguira mais ou menos manter-me focada, mas depois do que acabara de ouvir foi-me impossível continuar. Ele ergueu a sua mão esquerda, a única que se encontrava em condições e acariciou-me a face, os lábios, o pescoço… até me puxar definitivamente para ele e, quase imperceptivelmente beijou-me. Mas foi um beijo tão suave que me deixou desejosa por mais. Ele continuou naquele jogo de sedução, queria tirar-me completamente do sério até que eu não conseguisse resistir-lhe mais.  Conhecia-me tão bem… Sabia exactamente o que fazer para me deixar fora de mim. Aproximava os seus lábios dos meus e quando eu me preparava para lhe corresponder, afastava-se destes e beijava-me só ao de leve no canto da boca. E voltava novamente ao mesmo. Estava presa ao seu jogo, sem hipóteses de escapar. Com uma das mãos prendia-me a nuca, os meus cabelos entre os seus dedos. Com a outra segurava-me firmemente um pouco acima da cintura, e era tal a força com que me agarrava que me sentia quase prensada a ele. Como se estivéssemos num estreito corredor sem espaço para nos movimentarmos. Finalmente desisti de tentar perceber qual o gesto seguinte e fiquei imóvel, esperando ansiosamente que terminasse de me explorar e me beijasse de uma vez. Ele pareceu ler os meus pensamentos e pousou definitivamente os seus lábios quentes e macios nos meus. Depositou nesse beijo a mesma ansiedade e desejo que tinha depositado antes, enquanto brincava comigo. E apertava-me cada vez mais, tanto que a certa altura pensei que ia deixar de respirar e morrer ali mesmo sem que ele notasse que me estava a sufocar com aquele beijo. Mas era um sufoco bom demais para que eu o impedisse. Se morresse ali, naquele momento, teria morrido feliz beijada pelo homem que amava. E que homem! E que beijo! Fez-me desejar que não terminasse nunca. Sentia o desejo a crescer não só em mim, mas nele também. Envolvi-o com os meus braços, acariciando-o e explorando-o. Conhecia-o tão bem, e no entanto era como se fosse a primeira vez que o tocava e que sentia o seu corpo, todos os seus músculos e traços. As suas mãos começaram também a explorar-me, e os seus lábios afastaram-se finalmente dos meus para seguirem por outros caminhos, mais perigosos, e que deixavam um rasto de fogo por onde passavam. Seguiram pelo meu queixo, pescoço, e quando dei por mim repousavam no meu decote enquanto uma das mãos me acariciava os seios e… o telemóvel tocou.

Dei um salto para trás com o susto que levei. Naquele momento estava tão longe que nem acredito que estivesse no planeta Terra. Voltar assim tão de repente foi um choque tão grande como passar de água quente para água gelada. Atarantada, procurei o telemóvel irritante e amaldiçoei o dia em que tinha aderido a essa moda de andar com um telefone portátil atrás. Quando o encontrei olhei o visor e o nome “Ana” piscava ao som do seu toque. Atendi, ainda ofegante.

- Sim?

Do outro lado a voz da Ana soava preocupada. Tinha sabido através da inês sobre o que se passara com o Jaime e o David no clube, e queria saber como é eu estava e se era preciso voltar mais cedo.

- Está tudo bem. – Respondi. – Eu estou bem, não aconteceu nada de mais. Fica descansada e goza os dias com a tua mana. Cansada? Eu? Não, não é nada. É que estava no quarto e vim a correr para atender.

David começou-se a rir. Tinha a respiração mais acelerada do que eu pensava. Aproximando-se por trás de mim, cercou-me com os seus braços e começou novamente a beijar-me o pescoço. Eu tentava manter-me séria para que a Ana não percebesse. Não que não fosse contar-lhe depois, mas não queria que ela se preocupasse, e se soubesse que o David estava ali comigo iria desconfiar que algo se tinha passado, e encurtava a visita á sua família.

- Ok. Se for preciso eu aviso. Mas não te preocupes. A Inês tem tomado bem conta de mim. Sim mãe! – Brinquei. – Beijos e diverte-te.

Desliguei. Quando me virei o David estava disposto a iniciar o mesmo jogo do ponto onde tínhamos ficado, mas eu já estava suficientemente lúcida e desta vez consegui trava-lo.

- Calma menino. É melhor pararmos.

- Eu fiz alguma coisa errada? – Perguntou com uma expressão tão angelical que tive que reprimir um sorriso, afastando-me dele o mais que pude.

- Não… Sim. David, nós fizemos tudo errado. Eu não sei o que é que eu disse á pouco ou o que é que tu percebeste, mas a verdade é que eu estou numa relação com outra pessoa. E por mais certo que esta esteja prestes a terminar, dado todos estes acontecimentos, para todos os efeitos eu ainda sou namorada do Jaime. E além disso, tu e eu… bem, nós já passámos por isto e não deu certo. Será que queremos mesmo voltar ao mesmo?

- Eu te magoei muito… Me perdoa. Eu nunca devia ter convidado a Carol p´ra ficar lá em casa, e eu não devia ter deixado você sozinha naquela noite. O que aconteceu foi culpa minha…

Baixei a cabeça. Ainda me era tão doloroso lembrar de tudo aquilo...

- Tu fizeste o que achavas que estava certo. O problema é que nós temos visões muito diferentes sobre as coisas.

- O problema é que eu não sabia que amava tanto você. Eu nem imaginava o que você sentia, sabendo que outra garota dormia debaixo do mesmo tecto. Eu só percebi isso no dia em que eu vi você com outro, abraçada a ele. Aí eu entendi. Meu Deus, eu não consigo nem pensar, vocês os dois juntos, ele tocando em você… - David fechou os olhos com tal intensidade, a sua expressão de total horror até a mim impressionou. Percebi o quanto sofrera durante todo o tempo que estivéramos separados, imaginando-me nos braços de outro homem.

- Acho que não precisas massacrar-te muito com isso. O Jaime e eu nunca… tivemos nada… quer dizer… - Atrapalhei-me um bocado. Mas porque raio tinha eu ido buscar aquele assunto. Isso era uma coisa minha e do Jaime, e o David não tinha nada a ver com a nossa intimidade. E depois, era bem feito que sofresse. Assim sabia o que me havia feito passar. Olhei-o novamente, e a sua expressão era tal que não resisti. Não podia deixá-lo nessa agonia. E depois, nunca fora uma pessoa vingativa, acreditava que mais tarde ou mais cedo, cada um teria o que merecia. E o David já tinha tido.

- Ora… não interessa.

- Você quer dizer que… você e o doutor nunca…

- Não! – Interrompi-o, corada até á ponta dos cabelos.

- Mas, nem uma vez, assim…

- Não, David. Queres que te diga o quê? Nunca dormi com ele, nunca fiz sexo com ele… Nunca o deixei tocar-me como tu me tocaste, nunca sequer me conseguiu beijar como tu me beijaste… beijas. Pronto, satisfeito? – Disse, já num tom bastante alterado.

David olhava-me do outro lado da sala, com um sorriso nos lábios. Eu tentei pensar noutra coisa, e desviei o olhar.

- E pára de olhar para mim assim. Da próxima vez deixo-te na rua, e tu que trates sozinho da tua mão inchada.

Ele continuava a sorrir.

- Você me ama mesmo, né!

- Deixa de ser convencido.

Agarrei no estojo de primeiros socorros que estava em cima da mesinha, dei meia volta e sai da sala. Aquele tom do David estava a afectar-me profundamente. E na verdade  estava bastante envergonhada com o que acabara de lhe revelar. Precisava mesmo de me afastar dele. Entrei no meu quarto e abri a porta do roupeiro onde tinha o estojo guardado. Quando fechei a porta, encarei com o David parado mesmo á minha frente e dei um salto para trás, com o susto que levei. Mais uma vez o David agarrou-me.

- Queres parar de fazer isso.

- Só se você disser que me ama.

- Eu não tenho nada para te dizer.

- Olha p´ra mim. Eu amo você.

Desviei o olhar mais uma vez. Estava a tornar-se cada vez mais difícil resistir-lhe, e se eu bem o conhecia, ele não ia desistir.

- David, por favor… - Supliquei!

- Tudo bem. Eu não vou mais te aborrecer com isso. Você tem razão. Seu namorado ainda é o cara de c… o Doutor Jaime, e eu não devia ter feito o que fiz. Me desculpa.

E afastou-se, desta vez com cara de menino abandonado. “ Este homem sabe mesmo como me dar a volta!”, pensei. Mas mantive-me firme e mudei de assunto.

- Com a mão assim é melhor não conduzires esta noite. Se quiseres podes dormir no sofá.

- No sofá? – Disse, com cara de desapontamento.

- Sim. E é o melhor que eu posso oferecer.

- Tá bom.

Arranjei um lençol e um cobertor e ajeitei o sofá da melhor maneira possível, para que ficasse confortável. A seguir dei-lhe a almofada da Ana e despedi-me dele.

- Boa noite! Dorme bem.

Voltei para o meu quarto e vesti o pijama. Ter o David Luiz a dormir na minha sala, a poucos metros do meu quarto, não ajudava nada ao meu estado de espírito já inquieto. Tentei adormecer, e na verdade sentia-me bastante cansada, mas era impossível. Estava demasiado agitada. Turbilhões de pensamentos invadiam-me a cada dois segundos, e quando parecia ter tudo bem definido, concluía que afinal nada daquilo fazia sentido e voltava de novo á estaca zero. Para o David a noite também não devia estar a ser muito fácil. De vez em quando sentia-o ás voltas no sofá, e perguntava-me qual de nós estaria com mais dificuldade em adormecer. Ao fim de quase duas horas resolvi dar-me por vencida. Levantei-me e fui até á sala. Tal como imaginava, o David também ainda não tinha adormecido. Escondida atrás da almofada, sentei-me numa ponta do sofá e procurei algo para dizer. David olhava-me sereno.

- A mão ainda te dói muito? – Acabei por dizer.

- Um pouco. Mas tive uma óptima enfermeira.

Sorri. Mantinha a almofada á minha frente como se de um escudo se tratasse, protegendo-me não sei bem do quê. Respirei fundo e ganhei coragem para falar do que realmente importava.

- Amanhã vou falar com o Jaime. Não vale a pena continuar uma coisa que… bem, não é justo para ele e nem para mim.

David continuava a olhar-me calado.

- Tu tens razão. Todos, sempre tiveram razão. A verdade é que eu nunca gostei do Jaime. Ou melhor, gostei, mas não da maneira que ele queria que eu gostasse. Ele foi muito querido comigo, paciente, compreensivo. Mas devia ter ficado por aí, na amizade. Foi um erro que eu cometi e vou repará-lo quanto antes.

Encarei o David e continuei:

- Lamento pelo que aconteceu. E lamento tu e o Ruben terem sido apanhados no meio disto.

David ergueu-se, acariciou-me o cabelo, beijou-me na testa e puxou-me para ele. Não resisti e deitei-me junto a ele. O sofá tinha o tamanho ideal para que pudéssemos estar os dois juntos. Deitei a cabeça no seu peito e ele envolveu-me nos seus braços. Fechei os olhos e senti uma sonolência apoderar-se de mim. Conseguira finalmente aquietar-me. Parecia estar a alucinar enquanto me encontrava entre o sonho e a realidade, e vários “flash” de imagens minhas e do David percorreram a minha mente. Lembrei-me de quando pela primeira vez me disse que me amava. Fora no hospital, e nessa altura tive dificuldade em acreditar nas suas palavras. Abri ligeiramente os olhos e vi que também ele se encontrava no limite de adormecer, respirando regularmente.

- Eu também amo…tu! – Murmurei.

Depois, não sei se já estava mesmo a dormir, mas se assim foi, sonhei que me sorriu ao ouvir-me. E apertou-me mais para ele.

publicado por nuncamaissaiodaqui às 19:14

comentários:
Lindo, lindo :D
Quero mais!!!
Beijinhos
Elsa a 21 de Agosto de 2012 às 22:43

Adorei ver, finalmente, estes dois juntinhos (:
E estou a adorar estes capítulos tão frequentes!


Continua, beijinhos*
Tatiana a 22 de Agosto de 2012 às 00:12

Ahhh!
Que capítulo LINDO!
Amei!
Continua!
Beijinhos :)
Mary a 23 de Agosto de 2012 às 14:13

Adorei ver, finalmente, estes dois juntinhos (:

E estou a adorar estes capítulos tão frequentes!


Continua
Cristiana a 23 de Agosto de 2012 às 22:44

Oh que riquinhos.

Gosto tanto de os ver assim, juntinhos :D

Quando é que vais postar?

Beijinhos e continua ;)
S a 23 de Agosto de 2012 às 23:26

Quando voltas a postar?
Anónimo a 24 de Agosto de 2012 às 13:46

Em princípio ainda esta noite vou postar novo capítulo. O máximo amanhã. ;)

Vou postar aqui a fan fic da Sandra. Espero que gostem :)
Agradecimento
Muito obrigada a todas que comentam a fan fic :D