17
Ago 12

 

David parou o carro junto á porta da casa de Ruben e saiu a correr. Tinha começado novamente a chover, e desta vez não eram meros chuviscos. Ruben parou logo atrás dele. Fora difícil, mas finalmente convencera David a ir até sua casa para relaxar um pouco. Depois do que se tinha passado, David tinha ficado muito agitado e Ruben não achava boa ideia ele ir sozinho para casa. Assim conversavam e, quando estivesse tudo mais calmo David podia ir.

Sentado no sofá, David esperava que o amigo lhe trouxesse algo para beber. Não tardou muito que Ruben se juntasse a ele.

- Então, queres dizer-me que cena foi aquela lá no parque.

- E eu que sei? Conheci o cara no outro dia… como é que eu ia saber que ele era maluco assim.

- Mas conheceste-o onde? E porque é que ele disse para te afastares da Mel?

- A gente se cruzou numa festa aí, que a Pat me levou.  Nome dele é… Jaime, eu acho. O cara é médico. Lembra que eu falei que a Mel tinha passado mal? – Ruben assentiu com a cabeça. – Então, foi nessa noite que eu o conheci e fiquei sabendo que ele era namorado da Mel.

- Ui! Mas não faz sentido o que ele fez. Antes dessa noite tu nunca mais tinhas visto a Mel, e só a ajudaste.

David fitou o chão. Ele sabia muito bem que não tinha só ajudado a Mel quando ela passou mal. Ruben estranhou o silêncio dele.

- David! . Insistiu. – Tu só a ajudaste a sair da festa, certo?

- Eu carreguei ela no colo… levei ela p´ra dentro, tinha um corredor lá. A gente ficou sozinho e eu acabei… beijando ela.

- Tu fizeste o quê?

- Eu não resisti. Pôxa, tem mais de dois meses que eu não via a Mel, você sabe que eu ainda não esqueci dela. Aí, rolou um beijo entre a gente.

- David, o namorado dela estava na sala ao lado.

- Eu sei, manz, foi mal. Mas também não sou de ferro, né?

- E achas que foi por isso que ele armou aquela cena toda?

- Que mais pode ser?

- Mas como é que ele descobriu o que se tinha passado?

- A Mel contou p´ra ele.

- Ela não ia fazer isso.

- Fazia sim. Eu conheço ela. Tava se sentindo culpada e contou tudo pró doutorzinho lá. Mais ninguém sabia, a gente tava sozinho. Eu tenho certeza que foi ela que contou.

- E que bela confusão que ela arranjou.

- Não. Ela não deve saber que o cara lá é pirado. Se soubesse não tinha contado. Peraí… E se ele fez alguma coisa com ela?

- Achas que ele lhe ia fazer mal? Ele pareceu-me mais disposto a resolver tudo contigo.

- Eu não sei. Eu não falei com ela ainda. Melhor ligar p´ra conferir se tá tudo ok.

- Eu não acho boa ideia, David. Eles que se entendam.

- Não, eu vou ligar sim. Eu preciso saber se ela tá bem… - Diz, enquanto marca o número. Ele sabia-o de cor, tantas vezes ficara a olhar para ele com vontade de ligar. – Droga! Desligado. Você acha que eu devo ir atrás dela?

- David, vais arranjar mais confusão. Ouve, está a ficar tarde, tu ainda estás nervoso. Ficas cá esta noite e amanhã a gente vê o que é que fazemos.

 David ainda não tinha a certeza se era a melhor opção. A vontade dele era sair para encontrar Mel, mantê-la a salvo. Mas Ruben estava certo. Isso só iria piorar as coisas. E depois, tinha sido um dia pesado, aproximava-se um jogo importante e ele tinha de se concentrar. Acabou por concordar, mais uma vez, com Ruben. Ia fazer-lhe bem passar a noite em casa do amigo.

  •  

Apesar de ter chegado tarde a casa, pouco faltava para as oito da manhã quando me levantei. Tomei um duche rápido, vesti-me e dirigi-me à cozinha para o pequeno-almoço. O dia amanheceu cinzento mas ao menos a chuva passara. A casa estava demasiado silenciosa e isso dava asas aos meus pensamentos. Pensava em Jaime. Era suposto termos conversado mas eu tinha-o despachado com uma desculpa qualquer. “ Covarde!”, pensei, “ de hoje não pode passar”. Tinha as duas primeiras horas da faculdade livres e tinha resolvido aproveitar esse tempo para encontrar-me como Jaime, finalmente. Liguei o telemóvel que tinha desligado na noite anterior, e mandei-lhe uma mensagem a dizer que o encontrava no hospital. Era para ser uma conversa privada mas não me sentia à vontade para o receber em minha casa. Não depois do que tinha acontecido. No hospital podíamos ir para o seu gabinete, falávamos á vontade e, ao mínimo sinal de agressividade da sua parte podia sair para um corredor cheio de gente. O toque de mensagem recebida não tardou e carreguei na tecla correspondente para ver a resposta. O coração disparou quando vi que não tinha sido o Jaime a responder-me mas sim um aviso de chamada perdida… do David. Suspirei. Interroguei-me porque me teria tentado ligar e tentei ignorar. A última coisa que precisava neste momento era de me preocupar com ele. Senti a enorme convicção com que me tinha levantado a abandonar-me outra vez. De repente perdera até o apetite. O telemóvel voltou a tocar e desta vez não corri logo a ver o que era. “ E se fosse ele outra vez? E se me deixou alguma mensagem?” A minha prioridade era o Jaime. Ganhei coragem e resolvi ver de uma vez de quem era a mensagem. Desta vez era o Jaime e respirei de alívio. Dizia que ia a caminho e que me esperava lá. Saí em seguida sem terminar a refeição matinal.

O Jaime deu ordem para não ser incomodado. Cavalheiro como sempre, puxou a cadeira para me ajudar a sentar. Eu estava um pouco receosa, mas já não me encontrava zangada com ele. A verdade é que tudo aquilo começava a parecer-se com um sonho.

- Fiquei muito contente que me tivesses ligado. Como é que tu estás? – Perguntou.

- Bem… - Respondi timidamente. Olhei para ele pelo canto do olho. Tinha a mesma expressão serena e confiante de quando o conheci.

- Mel… Eu… Perdoa-me. Eu não sei o que me passou pela cabeça. Aquele dia foi um desastre e quando eu descobri que tu e o David tinham tido um caso eu… não sei. Perdi completamente a cabeça. Eu nunca te quis magoar, não era essa a minha intenção. Tu conheces-me.

- Eu já não sei se te conheço. Tu eras uma pessoa completamente diferente naquela noite.

- Mas isso aconteceu porque eu estava zangado comigo próprio. Eu sei que não é desculpa, mas perder um paciente, alguém que está nas tuas mãos… não imaginas o quão difícil é de lidar com isso. Eu fiquei frustrado e acabei por descontar na pessoa errada. Perdoa-me, por favor. Mas eu nunca te magoaria. Eu posso ter-te assustado, mas fazer-te mal, isso nunca Mel, nunca.

O seu olhar pareceu-me sincero. As suas palavras verdadeiras. E sim, é verdade que há certos dias em que acabamos por descarregar toda a nossa raiva na pessoa errada e ferir quem mais gostamos.

- Eu acredito que não tenha sido fácil, Jaime. Mas não podes comportar-te assim sempre que tens um mau dia. E depois, o passado é passado. Eu nunca te dei razões para te sentires assim. Se eu não te contei sobre o David foi porque…

- Tu tivestes as tuas razões. – Interrompeu-me. Ajoelhou-se aos meus pés e segurou-me as mãos.  – E eu confio em ti. Tens razão. O passado é passado. O que importa é o presente e o futuro que podemos alcançar, juntos.

O sorriso dele voltara  ser suave e algo que me acalmava. A voz era agradável. Sorri-lhe de volta.

- Podemos jantar logo? – Perguntou-me. – Abriu um restaurante novo e já me falaram maravilhas dele.

- Eu não sei bem a que horas saio do estúdio.

- E não podes sair mais cedo?

- Posso tentar. Se não houver problema, então sim, jantamos. – Acabei por aceitar.

- Não sabes o quanto me fazes feliz. – Disse, aproximando-se cada vez mais do meu rosto. Percebi quais as suas intenções, mas não me sentia preparada para o beijar ainda.

- Que horas são? – Disse, enquanto tirava o telemóvel de dentro da mala para ver no visor as horas e, ao mesmo tempo, disfarçar o meu nervosismo. Mas no momento exacto que o puxei para fora, este tocou e eu deixei-o cair. O Jaime apressou-se a apanhá-lo e entregou-mo de seguida.

- Obrigado! – Agradeci ao mesmo tempo que olhava para ver de quem era a chamada. Congelei! Senti-me a ficar sem pingo de sangue quando o nome “ David” apareceu. Apressei-me a rejeitar a chamada e levantei-me da cadeira num ápice. Instintivamente, voltei a meter o telemóvel dentro da mala. O Jaime mantinha-se à minha frente com a mesma expressão calma e doce. Teria visto de quem era a chamada? Se viu então escondeu muito bem.

- Tenho de me ir embora. Tenho aulas daqui a pouco. Eu ligo-te mais tarde para combinarmos sobre o jantar, ok? – E apressei-me a sair do consultório. Com a pressa nem dei tempo que ele se despedisse de mim. Simplesmente saí e não olhei para trás.

  •  

David tinha dormido muito pouco nessa noite. Não conseguia esquecer a cena que Jaime tinha feito nem o facto de Mel poder estar em perigo. Ruben conhecia bem o amigo e mal o viu sair do quarto muito pálido devido á noite mal dormida, adivinhou o que se passou. Sugeriu então que fossem no seu carro.

- Qual é? Tem medo que eu vá dormir por trás do volante?

- A sério. Deixas aí o teu carro e vamos no meu. Logo vens buscar o teu carro.

- Tá bom. Obrigado, manz!

Enquanto Ruben conduzia, David aproveitou a boleia e fechou os olhos. Ao menos tentava descansar um pouco. O mister sabia reconhecer quando um dos seus jogadores estava em forma, e naquele momento ele mais parecia saído de uma noitada do que de uma cama. Infelizmente não demoraram muito a chegar. Era hora do trabalho. Enquanto Ruben estacionava no lugar habitual, David agarrava no telemóvel.

- Estás a ligar para quem a esta hora?

- P´rá Mel. Quero ver se eu falo com ela antes de começar o treino.

Ruben encolheu os ombros. Sabia que quando uma ideia se lhe metia na cabeça era difícil convencê-lo do contrário.

- Então? – Perguntou. – Conseguiste alguma coisa?

- Não. Ela rejeitou a chamada.

- Se calhar está nas aulas e não pôde atender. E nós também temos de ir. Porque é que não tentas mais logo?

- Eu não vou conseguir me concentrar enquanto não falar com ela.

- Vais sim. Olha, fazemos assim. Ao almoço passamos pela “ Catedral” e falamos com a Inês. Se aconteceu alguma coisa, ela sabe, de certeza.

David assentiu. Até porque não havia mais nada que ele pudesse fazer naquela altura. Agarrou no saco desportivo e subiu com Ruben. Mas essa iria ser a manhã mais longa da sua vida. E não só porque o treino foi uma tortura, mas porque ele precisava de ter notícias da Mel. O facto de estar em ignorância completa estava a matá-lo. Tudo o que podia correr mal essa manhã, aconteceu.

Mas a hora do almoço chegou finalmente, e mal saiu do balneário correu á procura de Inês. Ruben seguiu-o. Se realmente tivesse acontecido alguma coisa, este não poderia deixá-lo sozinho. David entrou no restaurante quase em desespero. Os seus olhos percorreram todo o espaço, mas não viu ninguém. Estava já resolvido a perguntar a alguém por Inês quando esta aparece por trás da porta que dava para a cozinha.

- Olá, rapazes! Vieram almoçar?

- Inês, Eu preciso muito falar com você.

Inês franziu a testa. David parecia aflito com qualquer coisa.

- O que foi David?

- Tem um sitio aí prá gente conversar?

- Bem, eu estou em horário de trabalho, e são horas de almoço. Não posso sair assim.

- Eu falo com o Jorge e digo que era uma emergência, mas eu preciso de você agora.

A voz de David soava cada vez pior e Inês começava a assustar-se. Olhou em redor e depois disse-lhe.

- Podemos falar no armazém. Sigam-me.

Inês conduziu-os por uma entrada que dava para uma pequena sala por trás do restaurante. Mais à frente encontrava-se uma porta vermelha com uma placa que dizia “ Proibida a Entrada a pessoas estranhas ao serviço”. Abriu a porta, acendeu as luzes e mandou-os entrar.

- Mas o que é que aconteceu?

- Eu preciso achar a Mal. – Disse o David.

Inês revirou os olhos e abanou a cabeça.

- O, David. Tu fizeste-me sair dali para perguntares pela Mel? Ela não quer ver-te.

- Cê não tá entendendo. Eu preciso falar uma coisa pra ela. Uma coisa sobre o cara que ela tá namorando.

- Sobre o Jaime? O que é que tu sabes sobre ele?

- Sei que ele ontem entrou feito louco p´ra cima de mim, me ameaçando e dizendo p´ra eu me afastar dela.

- É verdade, Inês. – Confirmou Ruben. – Eu e o Martins estávamos lá e quase não conseguimos controlar o homem. Os seguranças tiveram de o arrastar.

- Meu Deus! – Inês lembrara-se do que tinha acontecido com Mel á pouco mais de uma semana atrás. Aquilo não podia ser coincidência. Dois ataques de fúria da mesma pessoa não soava nada bem.

- Inês! – David segurou-a pelos ombros e olhou directamente nos seus olhos. – Eu preciso falar com a Mel. Ela precisa saber o que aconteceu. E se ele parte p´ra cima dela também?

Inês engoliu em seco antes de responder:

- David, há uma coisa que tu tens de saber.

A expressão de David ficou ainda mais grave. Inês continuou:

- A semana passada ele esteve em casa dela. Eles estavam sozinhos e ele… eu não sei bem como explicar… ele, teve outro ataque…

- O QUÊ? Ele magoou ela? Filho da P***. Eu acabo com a raça dele.

- Calma, David! Ele não chegou a tanto, mas ele passou-se quando soube que vocês os dois tinham andado juntos e foi um bocado agressivo. Gritou com ela, apertou-lhe os braços, acusou-a de coisas horríveis, sei lá. A Mel conseguiu pô-lo na rua, mas ficou bastante assustada.

- Esse tipo é maluco mesmo.

- Eu juro que eu acabo com a raça dele. Covarde! – Aquilo que David temia tinha acontecido. A preocupação que sentira toda a manhã transformara-se em raiva. – Inês, eu preciso saber onde a Mel está agora.

- David, eu não acho boa ideia. Além disso, a Mel nunca mais esteve com ele desde esse dia, por isso podes ficar sossegado. Se houver alguma coisa ela liga-me.

- Como é que eu posso ter calma sabendo do que aquele louco é capaz?

- Mas vais ter de te acalmar! – Ruben falava num tom autoritário. – Lembra-te de quem és, o que fazes. O campeonato está a dois meses de terminar, e tens de te focar. Não te podes expor assim. E depois vais fazer o quê? Bater no tipo até á morte? Não é que ele não mereça, eu até te ajudo e tudo, mas agora tens de te acalmar.

- Droga! – A parede em frente a David estremeceu com o impacto do murro que este lhe deu. – Eu ainda pego esse cara de jeito.

publicado por nuncamaissaiodaqui às 04:48

comentários:
Amei!!!!


Quero novo capitulo rapidinho

Beijinhos
Maria
Maria a 20 de Agosto de 2012 às 11:46

Vou postar aqui a fan fic da Sandra. Espero que gostem :)
Agradecimento
Muito obrigada a todas que comentam a fan fic :D