06
Set 10

Corri o mais depressa que pude até ao sítio onde estava estacionado o Jipe. Cá fora a chuva caia com uma intensidade tal, que bastaram apenas alguns minutos para que eu ficasse completamente ensopada. Puxei a alavanca e tentei rodá-la mas esta prendeu em qualquer coisa e tive de dar a volta de forma a puder ver o que se passava. A pressa era tanta que não reparei que tinha sido seguida. Com o barulho da chuva a cair não ouvi os passos atrás de mim e só quando me virei é de dei de caras com ele.

- Caramba, David! Que susto…

- Desculpa! Não queria te assustar.

- O que é que estás aqui a fazer? Vais ficar todo molhado.

- Eu vim ajudar.

- Ajudar-me? Nem penses. Ainda apanhas uma gripe e era só o que me faltava. Não, não quero ser responsável se ficares doente e tiveres de faltar aos jogos.

Ele riu.

- Além disso, não preciso de ajuda. Tenho… tudo…controladoooo… - E desequilibrei-me. Teria caído redonda no chão se não fosse o David, que me segurou.

- Sério? É que daqui não ´tá parecendo não. – E continuou a sorrir.

Olhei para cima e encarei mesmo de frente com ele. Era mesmo grande. Nunca tinha estado tão próxima dele. Talvez por isso ainda nunca tivesse reparado na cor dos seus olhos, castanhos-esverdeados. Os caracóis, agora também molhados pela chuva, pingavam no meu rosto e o seu sorriso afável confortava-me. Uma leve brisa levantou e pude sentir o cheiro do seu corpo misturado com a água. Cheirava mesmo bem. Tentei recompor-me, meio atrapalhada, e foi então que percebi que tinha o seu braço em volta da minha cintura e eu, os dois entrelaçados á volta do seu pescoço. Devia ter a cara gelada pela água, mas apesar disso senti o calor subir-me á face. Virei imediatamente a cabeça para que não me visse corar, e ao fazê-lo reparei noutra coisa que me fez perder pingo de sangue. O trabalho que me tinha valido noites inteiras de sono, o tal que ia impedir que perdesse o direito à bolsa, no banco de trás do jipe, esquecido e completamente encharcado.

- O meu trabalho! –Gritei. E subi imediatamente o Jipe na esperança de ainda conseguir salvar alguma coisa. È claro que era inútil. Não havia ali nada que eu pudesse fazer. Recompus-me novamente e vi o a capota a levantar lentamente. Desci e olhei para o David. Tinha conseguido desengatar a alavanca e estava nesse momento a rodá-la. Aproximei-me para o ajudar.

- Deixa estar que eu faço o resto. - Disse eu.

- Você é um bocado teimosa. P´ra quem não estava precisando de ajuda, eu acho que me saí muito bem, ´cê não acha?

Endireitamo-nos os dois e olhámo-nos novamente. Só então devemos ter tido noção da figura em que nos encontrávamos. A T-shirt da “catedral” estava totalmente colada ao meu corpo e o cabelo caia-me pela cara juntamente com a água. Quanto a ele, os seus fartos caracóis deixaram de ser fartos e passaram a escorridos. Parámos por um segundo e de seguida começamos a rir com tanta força, que quem passasse por ali naquele momento iria com certeza tomar-nos por malucos a precisar de internamento rápido. Da mesma forma que começámos, parámos. Daí até ao momento seguinte perdi completamente a noção do espaço e tempo. Lembro-me de Olhar novamente o David nos olhos, mas não me apercebi quando a sua cara começou a aproximar-se da minha. Quando dei por mim, os seu lábios estavam colados aos meus num beijo tão profundo como apaixonado. Fechei os olhos e deixei-me ir naquela sensação de embalar que nos faz esquecer tudo e todos. Apesar do barulho da chuva conseguia ouvir os batimentos do meu coração. O meu corpo estava completamente dormente e eu não sabia se era do frio da chuva na minha pele, se era por estar envolvida num misto de sensações. Só sei que perdi o tacto. Não faço ideia do tempo que demorámos. Pareceu uma Eternidade, e quando terminou pareceu um segundo apenas. Não foi um daqueles beijos de cinema em que se vêm os protagonistas abraçados e em movimentos desassossegados. Não. Foi um único beijo, suave e simples, e eu não queria sair dali nunca mais. Apesar do desconforto que a chuva nos causava. Quando abri os olhos, ainda muito próxima dele, reparei que ele estava um bocado atrapalhado. Fora um impulso, uma coisa do momento e nem ele nem eu estávamos à espera do que se ia seguir. Ficámos então como estátuas parados frente a frente. O ambiente teria começado a ficar pesado se, de repente não tivéssemos começado a ouvir vozes dirigidas a nós.

- Mel! – Gritou a Inês, e o seu grito acordou-me do transe em que ainda me encontrava. – Tu és completamente doida. Olha-me só o estado em que tu estás.

- São os dois completamente doidos. – Disse o Ruben. – São quase horas do treino e tu vens para o meio da rua com esta chuvada. Se o mister Jesus sabe cai-te em cima. Olha Mel, não é nada pessoal, eu sei o que é ficarmos enrascados, mas há coisas que nós temos de evitar.

- Sim… - respondi com a voz a falhar-me. Queria dizer-lhe que o tinha avisado, eu tinha dito ao David que voltasse para dentro, mas ele não me ouviu. Mas no estado em que estava não consegui articular palavra.

- Vou ter que ir mesmo. ´Tamos em cima da hora p´ro treino. – Disse-me ainda. E tomou o caminho de regresso ao estádio com o Ruben.

Nesse momento chegou o Bruno. Trazia um casaco.

- Toma. – Disse, esticando-me o braço. – Enrola-te nisso. Meu Deus estás que nem um pinto…

- Vamos trancar isto e vamos para dentro. – Disse a Inês

- Espera, tenho o meu trabalho no banco de trás. – E dirigi-me à porta para a abrir. Não conseguia tirar o olhar dele. Vi quando se virou para trás e me olhou, ainda com uma expressão confusa, enquanto se afastava. Fiquei mais uma vez parada na sua direcção, sem conseguir pensar ou ter qualquer outro tipo de reacção. Mais uma vez despertei ao som da voz da Inês.

- Aquilo? Aquilo é o teu trabalho? Tás a gozar certo? Aquilo nem para limpar o rabo serve.

- Pois… eu sei. Não tem lá muito bom aspecto, mas tenho de tentar salvar o máximo que puder. - Tirei o enorme molho de folhas coladas pela água do Jipe, e voltámos para dentro debaixo dos guarda chuvas que ambos tinham trazido.

publicado por acordosteusolhos às 20:21

ola
Estou a gostar muito da fic...
Achei este capitulo super romântico! *.*


Olha, só um pequeno concelho... se der, edita o capitulo 7... é que é difícil lê-lo porque está tudo seguido... =$

Continua a postar a fic!
é das mais coerentes até agora que tenho visto por ai em relação ao DL. =)
Anónimo a 7 de Setembro de 2010 às 00:57

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Vou postar aqui a fan fic da Sandra. Espero que gostem :)
Agradecimento
Muito obrigada a todas que comentam a fan fic :D